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A droga mais perigosa

  • Foto do escritor: Maria Solla Moniz
    Maria Solla Moniz
  • 22 de abr. de 2020
  • 3 min de leitura

A droga mais perigosa que conheço não é a cocaína, não, nem o cigarro. Mas sim, um simples telemóvel, é verdade...


Um objeto tão pequenino, mas com uma capacidade assustadora de nos absorver e retirar do mundo real. O seu tamanho comparativamente com o meu corpo, é médio, ao lado do mundo, uma migalha. Aparenta ser inofensivo e defende-se com bons argumentos, não nego: “ Sirvo para comunicar, sou útil.” E quem me dera que fosse só isso: comunicar. Mas será que nos faz realmente comunicar? Estamos sem estar, “ estás preso a um cabo USB, tens dedos só para comunicar, conversas só a escrever, viajas sem sair do lugar”, como diz o grande cantor S. Pedro. É grande a tentação de querermos o que não temos, impedidos assim de realmente estar, simplesmente estar. Estou no quarto em casa (que remédio) ,mas ao mesmo tempo na praia com a Vera, na piscina com o João ou até nas Maldivas com um tio meu, incrível não é? Ao princípio parece que sim, contudo, esqueço-me do resto. E a Natureza, ainda te lembras?


Por muito que nos esforcemos, o virtual é sempre ingrato comparado ao real. Um emoji por mais detalhado que seja, nunca será capaz de expressar ou causar com a mesma intensidade o sentimento pretendido. Um beijo virtual não é comparável à sensação dos lábios na nossa face que nos deixam nervosos como se fosse a primeira vez, que nos deixa borboletas na barriga, a respiração acelerada e as bochechas rosadas. Um emoji de uma carinha a chorar a rir não é igual a ouvir ao vivo uma boa gargalhada. Nem um vídeo, que é uma reprodução do real, tem essa capacidade, basicamente o real é insubstituível. Mas tenho pena que pouco a pouco vá perdendo valor, dando espaço a algo mais instantâneo, o nosso querido telemóvel. Parece que agora deixamos de ter rostos e a única imagem que temos para oferecer é a nossa testa. Há gestos pequeninos que são fáceis de perder, como o beijinho de boa noite aos pais que foi trocado por uma série mais empolgante, e embora não pareça relevante este pequenos gestos é o que nos define como seres humanos, em vez de robôs.


Venho adotar a posição de anjinho em cima do ombro direito, não se espantem de tanto radicalismo, eu sei que o telemóvel também oferece coisas boas.

Através deste pequeno instrumento fatal temos acesso a tantas aplicações que nem dá para contar ou perceber; é um mundo tão grande que nos faz perder a noção dos dias, horas, minutos, segundos e..... tarde demais, estás “drogado”. Entras no telemóvel sem precisares, abres a aplicação do Instagram “só para ver” e sais de lá sem ter adquirido qualquer conhecimento; quer dizer, desculpa, sabes quem faz anos.


Estamos constantemente à espera de uma notificação como um homem faminto espera comida. A nossa fome é, todavia, uma fome diferente. Fome de visualizações, de gostos, de mensagens privadas, de estar na moda ( seja lá o que isso for ), de estar gira na fotografia e de ser alternativo.

E como é saciada esta fome? Simples: não é, daí o vício. Não sabemos usufruir sem exagerar. Começamos a desculparmo-nos, dizendo à nossa consciência: “ É só um bocadinho”, até que damos por nós na lupa do Instagram a ver frases engraçadas dos Friends. E o grande perigo é acharmos que esta “doença” não tem efeito sobre nós, somos imunes. Porém, isto é uma bola de neve que a cada click aumenta de tamanho.


Com as drogas esquecemos o mundo real por umas horas e somos teletransportados para um que não existe. Há quem veja unicórnios, por exemplo. Com o telemóvel é semelhante, vemos sorrisos, biquínis e uma alegria constante, que claramente nem sempre é real. É impossível que a @Rute1234 esteja sempre a sorrir, contudo é o que o seu perfil demonstra.


Existe uma espécie de competição entre o “eu” e uma “amiga” (entre aspas, porque se é amiga não devíamos competir) . Competição para um certo torneio denominado: “ Quem é a mais falsa?”. Quem tem mais gostos, sabendo que acabou de discutir com os pais. Quem tem mais seguidores, sabendo que tem um amigo que precisa de um ombro para chorar. Quem finge melhor que vivemos num mundo utópico onde o sofrimento não existe.


E a medalha vai para..... todos aqueles que mergulham e aceitam que assim seja.

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