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Uma Marcha pela Paz

  • Foto do escritor: Diogo Ribeiro Tavares
    Diogo Ribeiro Tavares
  • 15 de jun. de 2020
  • 4 min de leitura


1865. Após séculos de subjugação dos negros às mãos do tão avançado povo americano, a Décima Terceira Emenda da Constituição dos Estado Unidos da América aboliu a escravatura. Sem dúvida alguma, um grande avanço no que toca aos Direitos Humanos, uma faísca de esperança para os oprimidos. Mas será que as mudanças foram, de facto, reais? Será que, na prática, o avanço foi assim tão grande?


Enquanto estudante de Direito percebo que a lei é, sem dúvida alguma, um elemento imprescindível para a regulação da sociedade, no entanto, apesar de ter de ser respeitada, não muda mentalidades, e este facto é particularmente notório nos Estados Unidos. Mesmo após a abolição do trabalho escravo, os negros continuavam a ser vistos como inferiores, o lixo da sociedade, se me permitem. Proibiu-se, de facto, a escravatura, no entanto, tal atrocidade foi rapidamente substituída por outro fenómeno igualmente cruel e moralmente condenável: a segregação racial. Este fenómeno era visível nas mais simples tarefas do quotidiano: existiam transportes públicos para negros e outros para brancos, escolas para negros e escolas para brancos, bairros de habitação para negros e bairros para brancos. Escusado será dizer que, apesar da máxima “separate but equal”, as diferenças eram mais que evidentes, sendo que os recursos destinados a brancos eram infinitamente superiores aos dos negros. A ideia da segregação racial foi apenas derrubada em 1954. “Isso já foi há muitos anos”. É um facto, mas as pessoas mudaram assim tanto a sua forma de pensar? Apesar de todos estes comportamentos racistas serem legalmente proibidos, realço que a lei não muda mentalidades, ou seja, o racismo continuou a ser uma realidade.


Falei, inicialmente, da discriminação nos Estado Unidos, no entanto, este é um fenómeno que não lhe é exclusivo. Ao longo de toda a História da Humanidade, é possível ver que o ser humano é capaz do pior. Entre 1941 e 1945, os judeus foram perseguidos e mortos pelo regime Nazi, apoiante da supremacia Ariana; também em 1945, as bombas de Hiroshima e Nagasaki, vitimaram milhares de inocentes; e, o acontecimento mais polémico da altura, em maio de 2020, a morte de George Floyd, sufocado por um agente da polícia. Estes são apenas alguns casos que provam que o ser humano é, de facto, a maior das pandemias e que, infelizmente, as mentalidades não mudaram assim tanto.


Para mim é genuinamente frustrante ver que, em pleno século XXI, os valores pelos quais os meus pais me educaram, valores esses que considero corretos e pelos quais guio a minha vida, são desprezados por tanta gente. É frustrante ver que, enquanto estudo, em Direito Civil, os direitos fundamentais e como estes são invioláveis, vejo, no outro lado do Atlântico pessoas a morrer às mãos das autoridades policiais, que têm o dever de garantir que estes direitos são, efetivamente, respeitados. Tenho concluindo que o mundo que sempre idealizei, baseado no respeito pela diferença, na igualdade e na liberdade, não passa disso: uma idealização. Entristece-me abrir o noticiário e ver que enquanto uns sofrem com a pandemia, com a qual ainda estamos a lutar, outros vêem-se obrigados a ir para as ruas manifestarem-se porque de outra forma não têm uma voz - quero clarificar que não aprovo atos de vandalismo e violência, no entanto, creio que, em casos como este, precisamos de ter uma visão um pouco mais abrangente.


A minha idealização do mundo pode, neste momento não existir, no entanto - chamem-me ingénuo -, acredito que seja possível alcançá-la, um dia. Para isso, acho que é importante perguntarmos a nós mesmos se é neste mundo que queremos viver; se é neste mundo que queremos que os nossos filhos e netos cresçam; se é neste mundo que vamos ser felizes. Eu sei que não é assim que quero construir a minha vida. Recuso-me a viver num mundo onde, apesar de todos os avanços fantásticos feitos na área das ciências, ainda existem pessoas presas a mentalidades medievais e ultrapassadas. Há algo que tem de ser entendido: não se define uma pessoa pela cor da sua pele, não se define uma pessoa pelas suas crenças políticas ou religiosas e também não se define uma pessoa pelo seu género ou orientação sexual. Nós somos definidos pelo que somos e não pelo que aparentamos ser. Até isto ser percebido a 100%, nunca vamos ultrapassar estas crises humanitárias. Nunca vamos evoluir. O racismo, o sexismo ou a homofobia não são opiniões.


Por tudo isto, tenho a consciência de que, enquanto cidadão privilegiado, numa sociedade, em alguns aspetos, tão retrógrada, é meu dever falar pelas minorias, e dar voz àqueles que não a têm, porque lhes é tirada. Como tal, defendo que todos somos dignos do mesmo respeito e ninguém merece ser inferiorizado pelas suas diferenças. Se queremos mesmo evoluir, é essencial compreendermos que, no final do dia, sejamos brancos ou pretos, homens ou mulheres, heterossexuais ou homossexuais, todos somos humanos e essa é a única coisa que importa.

Diogo Ribeiro Tavares

Estudante de Direito na Universidade Católica Portuguesa

1 Comment


limacristhina
Jun 16, 2020

Excelente reflexão ! Querido Diogo , lamento ter que dizer-lhe mas está não será a primeira vez que irá deparar-se com a controvérsia entre as normas jurídicas e a vida real ! As normas jurídicas estão aih para regular uma sociedade, mas muitas vezes em certos assuntos sensíveis , veladamente existe o conflito com as regras sociais e valores que cada indivíduo possui !

Também quando estudante de Direito muitas vezes vi-me em situações semelhantes a esta que você experimenta porém com outras temáticas !

Continue seu caminho no Direito com motivação e propósito e certamente será parte desta mudança de mentalidade que tanto precisamos para a civilização moderna poder avançar !

Parabéns pelo texto !


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