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Papa Francisco, dez anos depois

  • Foto do escritor: Francisco Lopes Matias
    Francisco Lopes Matias
  • 13 de mar. de 2023
  • 5 min de leitura

13 de Março de 2013, tinha onze anos nessa tarde. Estava na sala de casa com a mãe e o avô. Agarrado à televisão e entusiasmadíssimo com o que via à minha frente. A certa altura, começa a sair fumo branco. “Habemus Papam”, proclamava um Cardeal, um daqueles Bispos vestidos de encarnado dos quais misteriosamente e com o ‘dedo de Deus’ sai o Papa.


E ali estava ele, todo de branco, de óculos, “Qui sibi nomen imposuit Franciscum”. O Papa tem o meu nome, pensava. E dizia este novo Vigário de Cristo que vinha do “fim do mundo”, pedia pelo Papa Bento XVI, para que rezássemos “sempre uns pelos outros” e por ele, Jorge Mario Bergoglio e, essencialmente, por ele, Francisco. Ali estava aquele que nos iria guiar, humilde.


13 de Março de 2023. Francisco é Papa há precisamente dez anos. E há muito que agradecer. Agradecer a simplicidade do seu olhar e das suas palavras, a abertura a um mundo tantas vezes esquecido, o dos pobres. Agradecer a esperança e a busca de sentido que traz a uma humanidade cada vez mais alheada, perdida e sem um rumo. Agradecer ser o pastor da misericórdia, que nos lembra que Deus procura incessantemente a ovelha perdida e os mais afastados, das chamadas periferias, não só económicas. Agradecer que nos alerte para a “globalização da indiferença”, que nos prende no nosso bem-estar e fecha o nosso coração aos demais.


Numa década como Sumo Pontífice, muita coisa aconteceu e muito fez e disse o primeiro Sucessor de Pedro advindo da América: desde viagens apostólicas memoráveis e inéditas (República Centro-Africana, Emirados Árabes Unidos, Iraque, entre muitas outras) a discursos notáveis. Pediu “uma Igreja pobre, para os pobres” e deu uma atenção especial aos refugiados, combateu firmemente o clericalismo (com a reforma da Cúria Romana à cabeça) e os males que desfiguram o doce rosto da Igreja, como o terrível flagelo dos abusos sexuais de menores, foi e tem sido um intercessor e um arauto da paz. Proclamou a dignidade da vida e de cada vida, clamando contra as injustiças do aborto, da pena de morte, da exploração de pessoas.


Lembrou o mundo da centralidade da pessoa humana no centro das decisões políticas, criticou a ideologia de género como “a mais perigosa das colonizações ideológicas” e advogou pela preservação e cuidado do meio ambiente, como “casa comum” de todas as pessoas. Inspirou-se (não só no nome) em São Francisco de Assis e procurou fazer ver que Jesus é a única verdadeira resposta aos anseios e sonhos do coração humano. Nesse sentido, realçou a necessidade de uma “Igreja em saída” e não autorreferencial.


Todavia, se tantas vezes se olha, de fora, para o actual Santo Padre como uma revolução interna ou um “progressista”, a verdade é que esta politização e mundanização da pessoa de Francisco é, não apenas uma maneira errada de olhar para a realidade eclesial e cristã, como não corresponde à verdade. O Papa nunca procurou mudar a doutrina da Igreja (que é, por definição, imutável), tendo sim um especial cuidado em transmiti-la na língua que o mundo fala e de um modo que seja compreensível a todos.


Fala com amor, sabendo que o que a Igreja ensina não é uma mera teoria filosófica com 2000 anos, mas o plano salvador de Jesus Cristo para cada pessoa individualmente e para o mundo como um todo - por isso, um cristão não transmite uma ideia, mas a Verdade que salva cada homem e mulher. Estamos a falar da realidade concreta, não de um idealismo etéreo. Parece sim que Francisco concorda e aplica o que o seu predecessor havia explicado magistralmente na sua terceira encíclica. Ensinava Bento XVI que “Só na verdade é que a caridade refulge e pode ser autenticamente vivida. A verdade é luz que dá sentido e valor à caridade. (…) Sem verdade, a caridade cai no sentimentalismo. O amor torna-se um invólucro vazio, que se pode encher arbitrariamente.” (Caritas in veritate, 3)


Noutro dia 13, o de Maio de 2017, o Papa Francisco, em Fátima, perante um mar de peregrinos emocionados, de todas as idades e proveniências, proferiu palavras que quem lá esteve nunca esquecerá. Lembrou-nos de forma enfática que “temos Mãe, temos Mãe!” e exortou-nos a que “(a)garrados a Ela como filhos, vivamos da esperança que assenta em Jesus”.


Esta palavra, esperança, é uma das muitas que pode resumir o pontificado de Francisco. Porque, num mundo tão desesperançoso e que se parece afastar cada vez mais dos valores e palavras do Evangelho, os católicos devem ser portadores de fé e esperança, de um fogo que se acende na relação pessoal com Cristo e que deve ser capaz de iluminar todos os que nos rodeiam. Na Exortação Apostólica que dedicou aos jovens, lembrou-nos a todos qual o papel que, como leigos (mais e menos novos), devemos ter nesta realidade em que vivemos. Escreveu que “a vocação laical é, antes de mais nada, a caridade na família, a caridade social e caridade política: é um compromisso concreto nascido da fé para a construção duma sociedade nova, é viver no meio do mundo e da sociedade para evangelizar as suas diversas instâncias, fazer crescer a paz, a convivência, a justiça, os direitos humanos, a misericórdia, e assim estender o Reino de Deus no mundo.” (Christus vivit, 168)


Neste tempo de Quaresma, relembramos um dos momentos icónicos do pontificado de Francisco. A 27 de Março de 2020, em plena pandemia de Covid-19, o Santo Padre, ao anoitecer e perante uma Praça de São Pedro vazia, abençoou o mundo, dirigindo-nos a todos palavras de esperança e de fé, num momento de incertezas e sofrimento. Disse que estávamos todos “no mesmo barco” e proclamou: “Temos uma âncora: na Sua cruz, fomos salvos. Temos um leme: na Sua cruz, fomos resgatados. Temos uma esperança: na Sua cruz, fomos curados e abraçados, para que nada e ninguém nos separe do Seu amor redentor. (…) Abraçar a Sua cruz significa encontrar a coragem de abraçar todas as contrariedades da hora actual, abandonando por um momento a nossa ânsia de omnipotência e possessão, para dar espaço à criatividade que só o Espírito é capaz de suscitar.


Dez anos depois de subir pela primeira vez de batina branca a varanda da Basílica de São Pedro, agradecemos ao Bom Deus e pedimos pelo Papa Francisco, seguindo o seu exemplo – que é, em última medida, o de Cristo – e fazendo a nossa parte, como peregrinos para o Céu e para a santidade. Sejamos homens e mulheres para Deus e para os outros, porque, como lembrava o Santo Padre neste momento de oração no início da pandemia, “(a) oração e o serviço silencioso: são as nossas armas vencedoras.


Vê-lo-emos, se Deus quiser, na Jornada Mundial da Juventude de Lisboa, a quarta de Francisco e a sua segunda visita à Terra de Santa Maria.


Já foram dez anos, que sejam muitos mais!



Fotografia do artigo: Photo by Andrea Bonetti/Greek Prime Minister's Office via Getty Images, presente na notícia com o seguinte link: https://www.vox.com/identities/2017/8/22/16183458/pope-francis-voice-compassion-refugees

 
 
 

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