Compassos
- Maria Dominguez
- 11 de nov. de 2020
- 2 min de leitura
Atualizado: 20 de nov. de 2020

Heterónimo - Pierre Desplancke
Pierre foi um pianista. Nascido na bélgica a 12 de outubro de 1882 mudou-se para Nova Iorque para estudar música. Alto, cabelos pretos era dono de uma invejável classe. Filho de músicos cedo se revelou um prodígio. Já nos Estados Unidos, conheceu um trompetista com quem se mudou para Chicago. Era apaixonado por jazz e pela vida noturna. Aos 17, teve um professor cujo o grau de exigência lhe retirou o sentimento ao tocar, ficou traumatizado e por isso tinha medo de palcos. Foi deixado pelo trompetista. Culpa de uma mulher.
Todas as noites, tocava em bares onde sabia que não ia ser ouvido. Mais tarde, começou a escrever sobre os impactos da Primeira Grande Guerra na sociedade que o rodeava, descrevendo o que via nos bares. Morreu de overdose.
Compassos
Acendeu-se um cigarro e vi inspirar a mágoa de toda uma vida.
Ironicamente, o fumo quase que se escapuliu em traiçoeiras gargalhadas desprovidas de sentir.
Diante mim o mundo fraqueja, dezenas de conversas desvirtuadas e vozes que se unem no caos e é ruído.
Oh glorioso ruído!
E há gente que entra e sai, nunca a mesma gente que entra ou sai. Brindemos a esta gente que entra e sai e é tão próspera.
Filhos da guerra.
Loucura. Horas onde abunda o delírio.
Pés que dançam, os vestidos numa graciosa trajetória, giram e giram. E maravilha!
É todo este o movimento, o prosseguir. Prossiga-se e nem de relance se olhe o velho em ruinas.
Que espantosa herança! Oh América eternamente jovem!
Como são belas as tuas mulheres e as tuas beatas e os copos vazios deixados por corpos vazios.
Corpos que não ouvem e não veem. E balançam ao som desta perpétua música.
Compasso a compasso como vassalos da ilusão.
ilustração por Guadalupe Moura
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