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Ler é Roubar

  • Foto do escritor: Manoel Cabral de Melo
    Manoel Cabral de Melo
  • 30 de jan. de 2021
  • 2 min de leitura

Ler é roubar


Ouvi o Miguel Esteves Cardoso a divagar sobre a importância da leitura numa entrevista há umas semanas. Todos reconhecemos a sua importância, sejamos leitores mais ou menos ávidos, é um dogma da civilização. No entanto, a paixão com que o cronista falava – Com os olhos a brilhar, discursava sobre os livros como se fossem tão bons e apetecíveis que deviam ser proibidos, e que por isso nos devíamos sentir culpados ao lê-los – Foi esse entusiasmo que me “obrigou” a pensar e escrever sobre isto.

Com certeza que o excelentíssimo leitor, mesmo que não tenha como hábito escrever e publicar o que escreve, até que tenha sido numa avaliação de português no ensino secundário, já se sentiu injustiçado ao observar que o texto/poema/crónica/reflexão que escreveu, que demorou entre 20min a 5 anos de planeamento e reflexão prévia (no caso de um bom romance ou de um estudo de investigação científica) demora sempre 1/10 do tempo a ler, no máximo!

Num caso mais concreto, consideremos que tenho passado as últimas 5 semanas a pensar regularmente no comportamento dos habitantes de Lisboa nos transportes públicos, de manhã e ao final da tarde, e todos os dias eu observo as suas diferenças, tiro conclusões, reflito sobre elas e volto no dia a seguir atento para as pôr à prova. Um dia, já consolidados alguns dados, decido escrever um pequeno artigo de 3 páginas sobre como o Homem reage a situações e cenários idênticos antes e depois de um dia de trabalho em Lisboa. O leitor lê tudo o que eu escrevi e absorve toda a informação num espaço de 20-30min, informação essa que me demorou 5 semanas a recolher! No dia a seguir, no caminho ao escritório, olha à sua volta no comboio e ri-se internamente a comprovar o que leu na noite anterior. O leitor, essencialmente roubou-me 5 semanas de vida.

Passemos então a um plano mais sério de discussão, contemplemos a quantidade de valiosas experiências e pensamentos que nos rodeiam a pedir de joelhos que as roubemos por uma fração do “custo”. Quantos livros escritos por mentes brilhantes e interessantíssimas nos esperam na livraria mais próxima por um preço simbólico (comparado ao do conhecimento)? Ou quantos mais gritam para que alguém os leia de graça nas bibliotecas? Atenção, contra mim falo, mas parece-me de uma insensatez gigante o pouco tempo que dedicamos a ler (ou como lhe devíamos chamar: Roubar com todo o descaramento) comparado com o tempo que nos ocupam as maiores inutilidades. O leitor, tem de me desculpar a agressividade, mas é mesmo um acto convencido! É como se de alguma forma subconsciente achássemos as nossas cabecinhas insignificantes superiores à dos grandes autores que devíamos estar a ler e não estamos, e então menosprezando aquelas páginas abandonadas numa estante a ganhar pó, dedicamo-nos às actividades mesquinhas de passar 2h por dia a ver as outras inutilidades mesquinhas que as pessoas que nos rodeiam (ou não) andam a fazer. É verdadeiramente estúpido.


Pelo que, acho mesmo que ler só não é proibido, porque não o fazemos o suficiente. No dia em que todos (incluindo o meu ser convencido) percebermos o ouro escondido por detrás dos livros, é certo que ler será ilegal.

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