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Os Olhos da Pele

  • Foto do escritor: Manoel Cabral de Melo
    Manoel Cabral de Melo
  • 2 de dez. de 2020
  • 3 min de leitura


The Eyes of the Skin, ou Os Olhos da Pele, evidencia agressivamente a ditadura da visão sobre os restantes sentidos do Homem na arquitectura moderna. Neste ensaio, Juhani Pallasmaa, o autor, expõe como cada vez mais nos fazem falta a maior presença e atenção ao tacto, ao cheiro e à audição na cultura que nos rodeia, nomeadamente nas nossas casas, e cidades.

Efectivamente, a visão é muito frequentemente e facilmente enganada, por vezes até por nossa própria subconsciente vontade. É o mais fraco dos sentidos no sentido em que é o que mais recorrentemente peca, é frágil. Quem consegue evitar cruzar olhares com os gigantes “billboards” da era moderna? Com as capas de revista estudadas ao pormenor para serem irresistíveis ao olho humano? Ninguém. Deste modo, é precisamente dessas falhas que nasce a necessidade do casamento da visão com os restantes sentidos. Juntos e devidamente complementados, a visão, o tacto e o olfacto, elevam a experiência arquitectónica humana a um nível exponencialmente superior. No entanto, só e apenas só se esta noção estiver presente desde a concepção de um projecto chegaremos também a uma obra de valor artístico superior.

Podemos perguntar-nos, o que distingue uma maquete ou modelo das edificações onde habitamos? É evidente que a escala é o factor óbvio, no entanto, não poderia ser apenas isso. Apelo ao leitor que se imagine dentro de quatro paredes brancas, iguais ao chão e o tecto que partilham a falta de textura e outras qualidades desinteressantes (ou falta delas): Quão insuportável seria? Quem menospreza a textura, sensibilidade, cheiro e comportamento dos materiais que constituem a fachada, as paredes interiores, o chão, a mobília e todos os pormenores que vão desde um pilar frio em taipa, ao mogno quente de um puxador de uma porta de escritório, perde uma oportunidade incrível de experienciar a verdadeira beleza da relação do Homem com o espaço.

Assim, devemos abraçar o conceito de arquitectura como obra de arte total, e questionar-nos que vida vazia levam aqueles que nunca apreciaram na totalidade o toque macio de um cadeirão revestido em veludo, aqueles que nunca pisaram descalços as irregularidades de todos os veios de um chão de madeira, aqueles que nunca tiveram a sensibilidade de fechar os olhos para melhor sentir o cheiro de uma escrivaninha antiga em pau-santo, e mais importante que tudo isto, não deixaram que estes pormenores se dissolvessem em simultâneo com as cores, volumes e brilhos que os acompanham.

Deste modo, numa era em que se fala tanto de legado e responsabilidade que temos para com as gerações futuras, devíamos questionar-nos incansavelmente se o que se tem visto a ser construído principalmente na capital Portuguesa é o que queremos deixar como marco. Como será que as últimas tendências da arquitectura (que já nem Portuguesa lhe podemos chamar) vão envelhecer? Será que as escolhas de materiais e cores vão prosperar daqui a 80 anos? Não podemos cair na tentação de apoiar arquitectura efémera, como a arquitectura dos anos 80 do Taveira. Não só arquitectos, nem estudantes de arquitectura, mas como Portugueses, porque todos sofremos com arquitectura pobre. Deixemos que se sinta este peso nos nossos ombros, e procuremos edificar “história” que envelheça tão bem como a baixa pombalina, ou como as avenidas novas.

Concluindo, o menosprezo ocidental por estes aspectos que devem acompanhar de mãos-dadas a arquitectura é, em expressão popular, “a morte do artista”, e constitui uma grande ameaça ao que nos torna humanos. Deve por isso, ser cultivada dentro dos mais novos esta sensibilidade e cultura, para que daqui a 200 anos possamos olhar para a arquitectura moderna e observar como envelheceu graciosamente, da mesma forma tão elegante como envelhece um azulejo azul e branco numa fachada de uma casa do século XVIII.

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