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António Corrêa D’Oliveira, poeta da Pátria e da Fé

  • Foto do escritor: Rosarinho Moreira Rato
    Rosarinho Moreira Rato
  • 15 de jun. de 2021
  • 3 min de leitura


As salas de aula são, inevitavelmente, uma grande fonte de conhecimento para os estudantes. Temos a sorte de poder dar tempo e atenção a grandes obras de grandes autores, nomeadamente Fernando Pessoa, Camilo Castelo Branco, Luís de Camões, Sophia de Mello Breyner Andresen, entre muitos outros, através da disciplina de Português. Embora sejam personalidades muito importantes para a nossa história e cultura enquanto portugueses, é inevitável que outras também dignas de algum reconhecimento fiquem de fora, como é o caso de um dos portugueses com mais nomeações para o Prémio Nobel.

António Corrêa D’Oliveira (ou Correia de Oliveira) nasceu a 30 de julho de 1879, em São Pedro do Sul. Entrou no Seminário de Viseu após completar o ensino primário, mas abandonou os estudos aos 12 anos, pouco tempo depois de ficar órfão de pai. Publicou os seus primeiros versos aos 16 anos e o seu primeiro livro, Ladainha, aos 17. Durante uma estadia prolongada em Lisboa, conheceu por intermédio de Maria Amália Vaz de Carvalho, aquela que viria a ser sua mulher em maio de 1912, D. Maria Adelaide da Cunha Sottomayor de Abreu Gouveia. Mudou-se para a Quinta de Belinho, em Esposende, casa da família da mulher, onde viria a compor a maior parte da sua obra.

Tiveram 3 filhos: Manuel, José Gonçalo e António. Sem quererem que estes se afastassem de casa para continuar com o percurso escolar, o poeta e a mulher aproveitaram as condições da casa para abrir um colégio nos anos 30.

Tanto o poeta como a sua mulher eram conhecidos pela sua bondade e generosidade, nunca negavam comida e ajuda a quem pedisse. Sabe-se que doentes e moribundos chamavam por D. Maria Adelaide, mesmo a meio da noite, e ia sempre ela própria. Na guerra civil de Espanha, um soldado português foi preso e condenado à morte. A sua mãe pediu a Corrêa D’Oliveira que intercedesse pelo seu filho. A seguinte quadra, que o poeta mandou ao General Franco, resultou na libertação do soldado:


Por quantas vidas em flor

Dei à Espanha a Deus volvidas,

Eu Portugal peço à Espanha,

Me dê por Deus esta vida.


Protegido e acarinhado pela Rainha Sra. D. Amélia de Bragança, vem a ser conhecido como poeta da Pátria e da Fé por tratar nas suas obras temas religiosos e de exaltação patriótica, assim como poemas românticos inspirados na sua mulher e no seu ambiente familiar. Foi, por isso, escolhido como o poeta oficial do regime, com inúmeros textos escolhidos para os livros de língua portuguesa tanto no ensino primário como no secundário.

Recebeu a primeira nomeação para o Prémio Nobel da Literatura em 1933 e foi nomeado 15 vezes, sem nunca ter ganho. A vencedora de 1945, a chilena Gabriela Mistral, declarou que não era digna do prémio na presença do autor de Verbo Ser e Verbo Amar.

Em 2013, numa publicação conjunta da Brown University e da Universidade e Los Andes chamada “Pessoa Plural”, José Barreto escreve o artigo “Mar Salgado: Fernando Pessoa perante uma acusação de plágio”. Já antes de Pessoa ter escrito os seus famosos versos “Ó mar salgado, quanto do teu sal | São lágrimas de Portugal!” (Mar Português, in Mensagem), já Corrêa D’Oliveira tinha escrito “Ó ondas do mar salgado, | D’onde vos vem tanto sal? | Vem das lágrimas choradas | Nas praias de Portugal.” (in Cantigas). Foi publicada no jornal Fradique uma carta anónima onde o correspondente afirmava que não conhecia o livro de Pessoa e que, por isso, considerava a autoria dos versos mal atribuída. Uma resposta a esta acusação foi revelada em 2000, publicada em Poemas de Fernando Pessoa 1934-1935:


Eu fallei no mar salgado

Disseram que era plagiado

Do Corrêa de Oliveira.

Ora, plagiei-o do mar.

Eu sou tal qual Portugal

Faz-me sempre mal o sal

E ando sobretudo com azar.


O autor do artigo considera que o uso das palavras “sal” e “azar” nos últimos dois versos são claramente uma alusão a Salazar, visto que não seria a primeira vez que Pessoa usaria o mesmo jogo de palavras para se lhe referir. Faz sentido que o poeta se refira a Salazar num poema que mencione Corrêa D’Oliveira, porque este último era um conhecido apoiante do regime, tendo dedicado vários poemas ao chefe do Estado Novo.

António Corrêa D’Oliveira morreu a 20 de fevereiro de 1960, deixando uma vasta coleção de poemas. Pode não ser ensinado nas salas de aula, mas a sua obra é muito importante para a cultura portuguesa e para a poesia religiosa. Fica a recomendação para quem quiser passar a conhecer este grande português.


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