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"The Red House Mystery", um policial que surpreende

  • Foto do escritor: Rosarinho Moreira Rato
    Rosarinho Moreira Rato
  • 22 de mai. de 2020
  • 4 min de leitura

Atualizado: 7 de jun. de 2020


O nome Alan Alexander Milne não é, decerto, desconhecido pela maioria dos leitores. Essa fama é atribuída sem dúvida às histórias sobre Christopher Robin, Winnie the Pooh e os seus amigos do Bosque dos Cem Acres. Mas talvez muitos ignorem que o autor, da mesma maneira que escrevia histórias infantis para o filho, escreveu um único policial e dedicou-o ao pai. Chama-se The Red House Mystery e vem provar que a sua imaginação é capaz de muito mais do que dar vida a animais de peluche.

Desde nova que leio avidamente policiais. Devorei todas as histórias de Sherlock Holmes num verão e não passo umas férias sem ler pelo menos um livro da Agatha Christie. E embora nos meus olhos Holmes e Poirot (e até Miss Marple) sejam igualmente bons, as narrativas pertencem a duas categorias diferentes. Holmes é um detetive privado e maioritariamente só se envolve quando é contratado ou consultado. O seu papel assemelha-se mais ao de um polícia, embora os seus métodos e inteligência sejam considerados extraordinários de mais para um mero agente da lei. Poirot é também um detetive privado, mas os heróis dos livros de Christie acabam por ter uma relação mais pessoal, ou pelo menos mais de perto com os suspeitos, levando-nos a visitar casas de campo das famílias ricas de Inglaterra, festas e cruzeiros. O livro de Milne enquadra-se nesta segunda categoria, um típico locked-room mystery, mas ao mesmo tempo distancia-se de Agatha Christie porque a direção que toma não é a comum.

O enredo em si parece simples. O irmão problemático de Mark Ablett, o dono da Red House, vem da Austrália, aparece morto no escritório e Mark desaparece. Milne não perde tempo: no final do primeiro capítulo já o crime tinha acontecido. No segundo conta-nos a natureza peculiar de Mark Ablett e os acontecimentos que levam ao envolvimento do nosso detetive Antony Gillingham na história, para depois continuar no terceiro com a descoberta do corpo.

Mark Ablett vivia com o seu primo Matthew Cayley, a quem patrocinou os estudos. Este em troca tratava dos assuntos implicados na gerência de uma casa como a Red House, que estava sempre aberta aos mais diversos membros da sociedade inglesa, que vinham para disfrutar das atividades do campo e da hospitalidade do seu anfitrião. Na altura do crime achavam-se hospedados o Major Rumbold, mãe e filha Betty e Mrs. Calladine, Ruth Norris e Bill Beverley.

Antony Gillingham não é um detetive privado, nem polícia, nem sequer convidado da casa. Sabe apenas que o seu amigo Bill se encontra ali e decide visitá-lo, quando encontra Cayley a tentar abrir a porta do escritório. Juntos descobrem o corpo e Antony fica para o inquérito, e secretamente para investigar o crime. Com Bill, forma um par como Holmes e Watson (eles próprios fazem a comparação), e as suas capacidades de observação e dedução tornam-se imprescindíveis à resolução do mistério.

Os cinco convidados tinham-se ausentado durante a tarde do assassínio, e desde logo Milne deixa claro que os criados não têm muita importância. Os únicos suspeitos são o desaparecido Mark e o fiel Cayley, e independentemente do culpado o motivo parecia o mesmo: impedir que Robert Ablett perturbasse a vida pacífica do irmão.

Num formato mais comum de um policial existe uma lista de suspeitos, potenciais motivos e relações secretas entre os envolvidos, e até às últimas páginas permanece um alargado leque de personagens que não foram completamente ilibadas. Mas à medida que vamos lendo The Red House Mystery os dois suspeitos tornam-se num, porque se não foi Mark foi Cayley a seu pedido, o crime aparentemente só beneficia Mark. Mas este e a arma do crime continuam desaparecidos, a integridade de Cayley é duvidosa e o veredicto declarado no inquérito não bate certo com os factos que chegaram ao conhecimento de Antony. Quando finalmente descobrimos a verdade, percebemos que a investigação falha num pormenor logo ao início, e o crime tem agora uma perspetiva completamente diferente.

Milne proporciona ação e suspense até ao fim, sem se deter com descrições prolongadas e informações detalhadas que só servem para nos despistar. Cria na Red House um ambiente de mistério e foca-se mais nas personagens que contribuem para a grande revelação. Antony e Bill conferem à narrativa uma jovialidade que se afasta dos excêntricos Holmes e Poirot, sem lhes faltar inteligência e prontidão para o necessário, estimulados pela vontade de descobrir a verdade.

The Red House Mystery é uma boa surpresa para quem só conhece Milne pelos seus livros infantis. É uma leitura agradável e livre de pretensiosismos, porque afinal a sua primeira intenção é dar ao pai uma das coisas que ele mais gosta.

“To John Vine Milne

My Dear Father,

Like all really nice people, you have a weakness for detective stories, and feel that there are not enough of them. So after all that you have done for me, the least I can do for you is to write you one. Here it is: with more gratitude and affection than I can well put down here.

A. A. M.”

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