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As Três Irmãs de Tchékhov: sofrimento e insatisfação na vida provinciana

  • Foto do escritor: Rosarinho Moreira Rato
    Rosarinho Moreira Rato
  • 8 de mai. de 2020
  • 3 min de leitura

Atualizado: 7 de jun. de 2020


Anton Tchékhov (também o encontramos como Tchekov ou Chekhov) foi um grande escritor, médico e dramaturgo russo, muito conhecido pelos seus contos que mais tarde influenciaram vários autores modernistas. A sua coleção de peças não é tão extensa quanto a sua de contos, mas é considerado uma figura essencial do teatro moderno e as suas peças mais conhecidas são consideradas clássicos: A Gaivota(1986), O Cerejal (1904), Tio Vânia (1899-1990)e, aquela sobre a qual me vou debruçar neste texto, As Três Irmãs (1901).

As Três Irmãs é um drama em quatro atos e através da vida da família Prosorov aborda temas como o sofrimento, nostalgia e insatisfação na vida humana. É uma peça caracterizada mais pelo desenvolvimento das personagens e falas refletivas do que momentos de grande ação, ainda que existam alguns eventos significativos.

Olga, Masha e Irina vivem com o seu irmão André numa terra provincial na Rússia, mas cresceram em Moscovo. Ao longo da peça, as irmãs mostram sempre um desejo de voltar à capital, que representa tudo o que não conseguiram alcançar na vida, mas este regresso é sempre adiado e acaba por não acontecer.

A primeira cena marca o aniversário da morte do pai, que coincide com o Dia do Nome de Irina (é comum na Rússia celebrar este dia quando se tem um nome de um santo, para além dos aniversários). Para celebrar juntam-se à família os soldados do destacamento que se encontra na província: Solioni, Tousenbach, Tcheboutykine, Fédotik e Rodé, liderados pelo tenente-coronel Verchinine. Está presente também Natacha, que mais tarde casa com André. A festa de Irina e o incêndio que ocorre no terceiro ato são os maiores acontecimentos, mas são mais importantes pelo diálogo que propiciam do que propriamente pelas suas consequências.

Ao longo da peça, são-nos apresentadas várias interpretações do sentido da vida e do sofrimento. Uma mais otimista e moderna pela perspetiva de Verchinine que defende que a felicidade depende da maneira como se decide olhar para a vida, que contrasta com a de Tcheboutykine, um médico falhado que considera as suas ações passadas a causa do seu sofrimento. Mas nenhuma destas é aceite pelas três irmãs, que permanecem sem saber a resposta. Cada um dos irmãos sofre no presente, mas é a esperança de um futuro melhor que torna a sua vida suportável. Esta é a maneira de Tchékhov dizer que nunca saberemos verdadeiramente porque vivemos e porque sofremos.

O fim da peça deixa-nos com uma família Prosorov abalada pela insatisfação e infelicidade, e o destino de cada um deles prende-os à vida provinciana que não os deixa regressar a Moscovo. André entregou-se ao jogo, hipotecando a propriedade que pertence à família. A mulher Natacha foi-se apropriando da lida da casa, tratando mal as irmãs e a velha criada, mantendo um caso com o patrão do marido, Protopopov. Olga é professora no liceu para raparigas e acaba por aceitar resignadamente o cargo de diretora, passando a viver nas instalações da escola. Nunca se casou, embora manifestasse esse desejo para não ter de trabalhar tanto. Masha, que casou aos 18 anos com Kouligyne, cedo no casamento percebe que não está verdadeiramente apaixonada pelo marido e que já não se considera intelectualmente compatível com ele. Começa um caso com Verchinine, que termina com a partida deste. O marido aceita-a de volta por reconhecer a sua bondade e dedicação. Irina ainda esperava apaixonar-se verdadeiramente, mas no fim aceita casar-se com Tousenbach. Este é morto num duelo antes do casamento por Solioni, que desejava também a mão de Irina. Ficam as irmãs abraçadas, choram e querem saber a razão de sofrerem tanto, conformando-se com a sua situação e com o facto de que não voltarão à capital como tanto desejavam. Olga diz então que o tempo vai passar, que as suas vidas serão esquecidas mas que o seu sofrimento se tornará em alegria para as vidas futuras.

Não achei uma leitura fácil, mas culpo em parte a minha edição mais antiga que atribui falas às personagens erradas. Aliás, Tchékhov considerava que o seu papel enquanto escritor era fazer perguntas e não respondê-las, daí as suas obras serem de uma compreensão mais difícil. A peça foi adaptada para a televisão na quinta temporada da série BBC Play of the Month. Penso que este episódio se encontra no YouTube e é uma boa maneira de ficar a conhecer a história dos Prosorov e ouvir os diálogos mais filosóficos das personagens.

A maneira como os nomes estão escritos pode variar conforme as edições. Neste texto, usei como referência a edição para o Círculo de Leitores por cortesia da Editorial Presença, de 1975.

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