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"Estrela do Mar, uma viagem ao som do piano de Jorge Palma"

  • Foto do escritor: Francisco Pinto
    Francisco Pinto
  • 2 de jan. de 2021
  • 3 min de leitura

Estrela do Mar, de Jorge Palma, é um dos temas mais celebrados daquele que é por muitos considerado o melhor cantautor da música popular portuguesa do pós-25 de abril. Tendo surgido primeiramente no álbum Asas e Penas, de 1984, foi em 1991, no álbum Só, através de uma reinterpretação no piano de vários temas anteriormente compostos por Palma, que Estrela do Mar se popularizou como obra prima da nossa história musical recente, numa autêntica prova de técnica e consistência para o próprio Jorge Palma, que consistiu em gravar a totalidade do álbum sozinho e apenas com piano e voz, gravados em simultâneo.


Estrela do Mar abre íntima e suavemente, com o piano a protagonizar uma melodia alternadamente ascendente e descendente ao serviço de um retrato melódico das ondas do mar. É neste panorama solitário que somos introduzidos ao encontro à beira-mar entre o sujeito e alguém que se autointitula de “Estrela do Mar” e que acaba por constituir o elemento mais importante de toda a lírica da música. A partir de uma personificação da “Estrela do Mar”, Jorge Palma pinta o amor naquilo que é, se quisermos, a sua natureza mais bela, isto é, na entrega plena, na confiança cega e no cuidar desinteressado.


"Sou a estrela do mar

Só a ele obedeço, só ele me conhece

Só ele sabe quem sou no princípio e no fim

Só a ele sou fiel e é ele quem me protege

Quando alguém quer à força

Ser dono de mim"


A figura da Estrela do Mar adquire, assim, particular importância, não só por ser uma imagem naturalmente bonita, mas essencialmente por não ser limitativa na projeção que fazemos do seu significado perante aquilo que são as nossas vidas concretas. Neste sentido, Palma convida cada um a descobrir nos seus versos a sua própria Estrela do Mar, o que justifica o caráter abstrato que a figura assume no contexto do tema. O sucesso da concretização musical desta ideia deve-se fundamentalmente à intimidade que o piano, solitário, imprime à canção como um todo, o que se torna particularmente relevante na altura do refrão, em que o quadro melancólico das ondas do mar dá lugar a uma melodia crescentemente intensa e complexa que nos guia ao sabor da beleza do piano, num crescendo emocional que novamente desagua na calma das ondas do mar. Assim prossegue Estrela do Mar: pura, íntima e bela.


Já com fama de poeta boémio que deambulava por Paris com uma guitarra às costas, Jorge Palma compôs Estrela do Mar numa altura em que retomara os estudos superiores de piano no conservatório, tendo criado aquela que é, provavelmente, a sua melhor composição ao leme do instrumento. Num tema importante para a história da música popular portuguesa, Palma construiu, a partir de uma Estrela do Mar para a qual “Mil anos são pouco ou nada”, um retrato íntimo e delicado da beleza da confiança genuína, do carinho protetor e do consolo em braços alheios. Para o cantautor, tratou-se de mais um exemplo da ausência de fronteiras claras entre música “popular” e “erudita” na sua obra, tendo esta canção a particularidade de ter sido uma dura prova de técnica e concentração, em particular na reinterpretação para o álbum , considerado pela revista Blitz um dos 30 melhores álbuns portugueses de sempre.


Da guitarra elétrica ao piano, Jorge Palma é sem dúvida um dos grandes cérebros da música popular portuguesa e uma figura incontornável da nossa cultura. Passados 45 anos desde o lançamento do seu primeiro álbum a solo, Palma continua estrada fora.


Francisco Pinto, estudante de Economia na Nova SBE




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