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Restaurar Portugal hoje

  • Foto do escritor: Francisco Lopes Matias
    Francisco Lopes Matias
  • 1 de dez. de 2021
  • 5 min de leitura

Hoje lembramos o 1.° de Dezembro, o mais português dos feriados nacionais, em que celebramos “o dia da redenção / Em que valentes guerreiros / Nos deram livre a Nação”, como canta o Hino da Restauração.


Comemoramos hoje o dia em que os Quarenta Conjurados, encabeçados por D. João, Duque de Bragança, num acto de imensa coragem, restauraram, em Lisboa, a independência nacional, através do aprisionamento da Duquesa de Mântua, à época Vice-Rainha de Portugal, e perante um levantamento popular que imediatamente ganhou forma, em completo apoio à Restauração da independência e liberdade do Reino de Portugal.


Por isso, importa hoje, mais do que apenas lembrar o passado, refletir sobre a nossa situação enquanto Nação e fazer o mais nobre exercício de patriotismo, pensar Portugal e a nossa identidade enquanto povo e enquanto País.


Hoje vivemos num mundo que se quer global sem ser nacional, que quer afirmar o que é comum a todos, descurando as boas diferenças entre as Nações e entre os povos. Infelizmente, uma clara consequência desta globalização cultural será justamente um mundo sem cor, sem a diversidade dos povos, a multiplicidade das culturas e a beleza das tradições. E Portugal nunca foi isso, um País apagado e sem algo que verdadeiramente o definisse.


Por isso, hoje celebramos a coragem de quem, em 1640, não se conformou com ser província de um outro Estado, afirmando sem medos o imperativo da sua acção e o sentido do seu serviço, Portugal.


Hoje somos uma Pátria confusa, à procura das nossas raízes e de um sentido para existir. Ora queremos ser província de uma Europa cada vez mais centralizada e cada vez menos das Nações livres e soberanas, ora procuramos diluir-nos e ao que somos com o resto do planeta, “traduzindo” automaticamente para o nosso quotidiano costumes e ideias que não são as nossas e que não se aplicam a Portugal. Por outro lado, alguns têm a tentação de confundir identidade nacional com identitarismos étnicos ou raciais ou com um nacionalismo fechado, que não acolhe o que e quem é de fora e que declara guerra a tudo o que foge do seu puritanismo de vários tipos.


Ora, nenhuma destas três visões correspondem, na humilde opinião de quem escreve esta pequena reflexão, à génese de Portugal. Somos e sempre fomos uma Nação com uma forma de ser e de estar muito própria, com uma identidade nacional composta por diversas identidades regionais, mas que claramente constitui e constituiu ao longo da nossa História um único povo orgulhoso de si mesmo e do que ele mesmo é, foi e será, sem complexos infundados de superioridade ou inferioridade face a ninguém.


De facto, a verdade é que, como portugueses, nos podemos arrogar de, ao longo da nossa secular História, na unidade de um Povo, termos sempre sabido acolher a diversidade de vários povos que o compõem; nas palavras de uma Língua, termos acolhido incontáveis sotaques e dialectos; na clareza de uma Fé Católica que é luz para todas as Nações, termos sabido conviver com as mais variadas formas e costumes a si associados. No fundo, algo que Portugal – ao contrário de muitos outros países europeus – se pode orgulhar de poder dizer é que, não obstante cada pessoa ser natural da sua terra, região ou província, o sentimento de pertença à mesma Nação Portuguesa supera as identificações peculiares de cada região. Dito de outra forma: antes de ser de Trás-os-Montes, da Beira, do Alentejo, do Algarve ou dos Açores, cada um de nós é, em primeiro lugar, português. E esse é um aspecto fundamental.


Deste modo, ao longo da nossa História (mesmo quando Portugal se estendia “do Minho a Timor”, passando pela América, África e Ásia), sempre houve uma identificação natural com a nacionalidade portuguesa que, mais do que pelo território específico que ocupa ou pela origem étnica dos seus nacionais, se caracterizou sempre por uma comunhão espiritual, cultural e civilizacional que não encontra fronteiras: ser português sempre foi sinónimo de ter um ponto de partida e de chegada comum, de lutar por uma ideia de civilização e, acima de tudo, de se apresentar como tendo um desígnio, uma vocação própria e de carácter universalista.

Portugal tem, com a sua existência e através da sua acção frutífera, uma palavra a dizer ao mundo. Isto foi sempre o que nos diferenciou e o que explica que de tão pequenos nos tenhamos feito tão grandes, não só em dimensão territorial ou populacional, mas principalmente em espírito. E é isto que constitui, na verdade, a alma portuguesa. E, se este foi o segredo da nossa Fundação e Restauração, a perda desta vertente espiritual e vocacional foi a primeira das causas da nossa decadência e, cada vez mais, insignificância. Ao perdermos a nossa identidade, perdemos o que nos distingue e, por isso, perdemos a nossa razão de ser e de existir.


Por isso, inspirados pelo Hino da Restauração, que hoje orgulhosamente entoamos, respondamos ao repto que nos é lançado, em jeito de esperança e com uma exigência de efectiva acção: “P'rá Frente! P'rá Frente! / Repetir saberemos as proezas Portuguesas”.


Portugal nasceu em Ourique, em Santarém e na Cruzada de Lisboa a lutar por uma identidade, a identidade cristã; consolidou a sua independência em Aljubarrota já com o espírito de um povo coeso e comum, diferente dos castelhanos, com uma língua e uma forma de ser muito próprias e através de uma intensa devoção; expandiu-se pelo globo, dando “novos mundos ao mundo” ou criando um mundo onde havia muitos mundos, numa empreitada de proporções proféticas que, contra ventos e marés, levou aos quatro cantos da esfera terrestre a Fé e o Império, construindo uma civilização em todos os continentes e levando a nossa língua a milhões de pessoas, unindo povos anteriormente desavindos ou desconhecidos e, acima de tudo, criando uma herança comum a todos, a lusofonia ou portugalidade.


E foi justamente isto que se recuperou em 1640, após 60 anos de invasão espanhola: a nossa liberdade enquanto Estado formalmente organizado, mas, acima de tudo, como povo comumente enraizado e unido por uma herança colectiva quase milenar. E fez-se isso tendo na figura do Rei a ponte entre o passado, o presente e o futuro, mas também entre o Clero, a nobreza, a burguesia e o povo. O Monarca simboliza, portanto, o factor de unidade máximo entre todos, o portador de uma História secular e o unificador de um povo que, embora unido e coeso, tem diferenças entre si. O Rei é, assim, um factor de equilíbrio e a garantia derradeira do interesse do todo e não de cada uma das partes; é a face visível de um Reino que sempre se habituou a ter como Rei Supremo Nosso Senhor Jesus Cristo e como Rainha a Sua Mãe, Maria Santíssima, como formalizado por D. João IV a 25 de Março de 1646, ao coroar Nossa Senhora da Conceição Rainha de Portugal.


Deste modo, urge olhar para o exemplo dos Conjurados e perceber de que modo uma nova Restauração nacional pode ser feita neste ano de 2021, em que Portugal é cada vez menos Portugal. É a nós que cabe restaurar a nossa Nação, porque não nos podemos contentar com uma posição perfeitamente secundária na Europa e na comunidade internacional. Não somos uma mera província da cauda da Europa destinada a ocupar eternamente os últimos lugares dos rankings. Nunca fomos isso. Ou pelo menos nunca nos contentámos com isso. Essa não é a identidade do povo português nem a vocação de Portugal. Dizia o Presidente John F. Kennedy: “não perguntes o que teu país pode fazer por ti. Pergunta antes o que podes tu fazer pelo teu país”. Os Conjurados restauraram a liberdade e a dignidade de Portugal. E nós, hoje, o que vamos fazer para restaurar novamente o esplendor de Portugal?


Viva o 1.° de Dezembro e os Conjurados!


Viva Portugal!



O autor não escreve em conformidade com as regras do novo Acordo Ortográfico.

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