top of page

O Círculo

Início: Bem-vindo
Início: Blog2

Tragédia em Star Wars

  • Foto do escritor: Rosarinho Moreira Rato
    Rosarinho Moreira Rato
  • 19 de abr. de 2020
  • 4 min de leitura

Contém spoilers para os episódios I-VI de Star Wars.

A saga Star Wars é das mais conhecidas mundialmente, se não a mais conhecida. Mesmo quem não viu os filmes está familiarizado com muitos dos termos e personagens, como sabres de luz, cavaleiros Jedi, Estrela da Morte, Luke Skywalker e Darth Vader. Mas o que se calhar não é tão evidente é que este vilão é a personagem central, pelo menos dos seis primeiros episódios, e que a sua história se assemelha mais a uma típica tragédia grega do que pode parecer.

Quando George Lucas escreveu o primeiro rascunho do que hoje conhecemos como Star Wars Episode IV: A New Hope, a história era sobre Anakin Starkiller e os seus dois filhos. No início, ia ser só um filme, que começava com a entrada em cena de Darth Vader e acabava com o Imperador a ser "atirado pelo tubo". O objetivo deste primeiro filme era ter toda a perspetiva trágica da personagem, mas que na versão final não ficou tão visível. Só através dos seis episódios é que foi possível realizar esta intenção de Lucas.

A trilogia das prequelas, os episódios I-III, foi alvo de muitas críticas. Em parte devido ao mau diálogo, excesso de efeitos especiais (mais personagens em CGI do que humanas), e também por trazer altas expectativas aos fãs da excecional trilogia original, quando a maior parte deles acabou por ficar dececionado. Padmé passou de líder de um planeta, Naboo, a love interest com falta de personalidade e falas lamechas, e não por falta de talento de Natalie Portman. Foi simplesmente uma necessidade, uma causa para o destino de Darth Vader.

Contudo, sem estes filmes a saga estaria incompleta, visto que o objetivo de George Lucas foi sempre começar uma história a partir do meio, e depois voltar ao início. Sem eles, ficaria para sempre a história de como Luke Skywalker e os seus amigos libertaram a galáxia do domínio imperial, restaurando a República, ficando uma grande parte da história por contar.

A trilogia original segue o modelo do típico confronto entre Bem e Mal. Existem heróis e vilões, existe uma luta a ser travada, boas cenas de ação com lightsabers, naves espaciais e planetas novos e desconhecidos. O mundo foi introduzido a esta galáxia que continua a ser marcante nos dias de hoje.

Os primeiros episódios não têm esta luta tão clara, o que não é necessariamente uma má característica. Percebemos que algo de mau está para acontecer (principalmente quem já tinha visto os outros episódios), mas não é óbvio para as personagens, conferindo aos filmes um aspeto mais misterioso e trágico.

As tragédias gregas são um tipo de texto dramático baseado no sofrimento humano, normalmente sobre uma personagem que é destruída ou arruinada através das sua próprias ações. Anakin Skywalker ao deixar-se seduzir por Palpatine, cedendo aos seus medos e receios, acabou por causar a morte de Padmé, tudo o que ele quis evitar, entregando-se completamente ao Lado Negro. No fim, a sua aliança ao Imperador foi decisiva na queda da República e na destruição dos Jedi. Mas não é só a personagem de Darth Vader que concede um caráter trágico à saga. Normalmente as tragédias são introduzidas por um prólogo, onde é explicado o contexto da história prestes a começar, que se costuma desenrolar em três ou mais episódios. Também são comuns os interlúdios corais, que comentam ou explicam a história. Nas peças antigas isto era feito por personagens, e em Star Wars o papel é desempenhado pelas tão conhecidas letras amarelas, quer de prólogo no episódio I, quer de interlúdio nos seguintes.

Em Star Wars Episode I: The Phantom Menace, somos introduzidos a Qui-Gon Jinn e a um jovem Obi-Wan Kenobi que ao longo do filme se apercebem do regresso dos Sith Lords e acabam por lutar com um deles, Darth Maul. Todavia desconhecem da existência do verdadeiro vilão, Darth Sidious, e que ele se prepara para se tornar no próximo Chanceler da República. A ameaça iminente do Lado Negro da Força, ainda que desconhecida por muita gente, é um presságio da origem de Darth Vader e da criação do Império. Os presságios agem como forças do destino, sinais ao longo da história que anunciam o desfecho, outra característica muito comum nas tragédias. Podemos ainda estabelecer um paralelismo entre o que está a acontecer à República e a luta interior do jovem Anakin; os mesmos sinais prenunciam desfechos diferentes, mas complementares: a transformação de Anakin em Darth Vader e o fim da democracia na galáxia.

Aristóteles foi o primeiro a escrever um estudo crítico sobre a tragédia, no livro Poética. Ele usa o termo catarse para comparar o efeito da tragédia no espectador ao termo médico grego de katharsis que ocorre no corpo humano, um ato de limpeza e purificação. Ao relacionar-se com os sentimentos da personagem principal, principalmente de pena e de medo, o espectador fica capaz de se libertar desses sentimentos, através da arte.

A catarse na literatura é um processo de purificação das emoções, através da qual uma personagem atinge um estado de renascimento. Para Darth Vader foi o momento em que salva o filho das mãos do Imperador, acabando por morrer em sacrifício. Acaba aqui o seu percurso enquanto personagem trágica, com a sua redenção e morte, e passa a habitar na Força, juntamente com Yoda e Obi-Wan.

Por muito que os primeiros episódios sejam criticados, são necessários para fazer justiça à personagem de Darth Vader e para lhe dar mais complexidade. Provavelmente nunca vão ultrapassar a trilogia original e vão continuar a enfurecer fãs pelo mundo inteiro, mas se mudarmos de perspetiva talvez se tornem mais apelativas.

Comments


Entra em contacto

Somos O Círculo, seja O Círculo também.
Envia-nos aquilo que queres partilhar com o mundo!

967434145

Obrigado pelo envio!

Início: Entre em contato

©2019 por O Círculo. Pela Arte, Política, Cultura e Fé.

bottom of page